Pesquisa usa quercetina como aliada ao tratamento da doença de Crohn
CCS
atualizado 6 horas atrás
Heloísa Gonçalves
Agência UEL
A doença de Crohn afeta o trato gastrointestinal do portador, principalmente, a parte inferior do intestino delgado (íleo) e intestino grosso (cólon). Ela é progressiva, não curável por tratamento clínico ou cirúrgico e leva à diarréia, cólica abdominal e até sangramento retal, com possível perda de peso e apetite.
Fatores ambientais, como tabagismo, baixa ingestão de fibra alimentar e alta ingestão de gordura podem contribuir sinergicamente para o acometimento e progressão da doença, porém, a causa não está totalmente esclarecida.
Visto que a condição se caracteriza como uma doença crônica inflamatória e com a presença de vários distúrbios que afetam o estado nutricional, a utilização da quercetina pode funcionar como estratégia na melhora da inflamação e do estresse oxidativo nos pacientes e, possivelmente, melhorar sua qualidade de vida.
A ideia é estudada com afinco desde 2022 pela Profa Dra Danielle Venturini, do Departamento de Patologia, Análises Clínicas e Toxicológicas (PAC) do Centro de Ciências da Saúde (CCS). A pesquisadora atua no programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Laboratorial da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Benefícios da quercetina
A pesquisa é intitulada “Avaliação da suplementação da quercetina na melhora dos parâmetros antropométricos, inflamatórios, metabólicos e do estado redox em pacientes com doença de Crohn”.
A quercetina é um componente bioativo pertencente ao grupo dos flavonoides naturais. É encontrada em várias fontes alimentares, incluindo couves, cebolas, frutas vermelhas, maçãs, uvas vermelhas, brócolis, cerejas, sementes, nozes e em chás e vinho tinto.
Possui muitas propriedades biológicas, como atividades antioxidantes, anti-inflamatórias, antibacterianas, antivirais, gastroprotetoras e imunomoduladoras, bem como a capacidade de estimular biogênese mitocondrial e inibir peroxidação lipídica, agregação plaquetária e permeabilidade capilar, explicou a pesquisadora.
Parâmetros e estado redox
Doenças inflamatórias crônicas cursam com o aumento do estresse oxidativo, estado na qual substâncias oxidantes estão aumentadas e as defesas antioxidantes diminuídas, causando um desequilíbrio no estado redox. “Para avaliar a condição, temos padronizado no nosso laboratório diversas técnicas que utilizamos com bastante frequência nas nossas pesquisas científicas”, indicou Venturini.
Os recursos incluem a formação de lipoperóxidos e capacidade antioxidante total plasmática, além da determinação dos produtos avançados de oxidação proteica, de metabólitos de óxido nítrico, da superóxido dismutase, da catalase e de grupamento sulfidrila.
Ao longo dos últimos três anos, já foi realizado o desenvolvimento das cápsulas com quercetina, a convocação de pacientes com doença de Crohn, coleta de material biológico e análises bioquímicas e de estresse oxidativo no material coletado. Dos 53 portadores participantes, 27 receberam cápsulas com quercetina e 26 as receberam com placebo. No momento, os resultados estão sendo analisados e avaliados estatisticamente.

Finalidade e próximos passos
O projeto objetiva mostrar que a quercetina, devido ao seu potencial antioxidante e anti-inflamatório comprovado, possa ser um adjuvante farmacológico no tratamento de pacientes com doença de Crohn.
“Espera-se que a suplementação com quercetina seja capaz de melhorar a inflamação e o desequilíbrio redox nesses pacientes, além de promover melhora nos marcadores metabólicos e antropométricos. Espera-se também que o estudo possa contribuir para a geração de novos estudos acerca da doença de Crohn e seu tratamento com flavonoides”, informou Venturini..
A pesquisadora pontuou que, após a comprovação dos benefícios esperados com o uso do componente, “nossa ação será orientar os pacientes a continuarem a fazer uso da quercetina, seja como um nutracêutico (cápsulas), seja fazendo uso de alimentos ricos em quercetina”. A previsão de finalização do estudo é janeiro de 2026.
Reconhecimento
O projeto foi um dos 15 estudos da UEL contemplados com o “Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico”, promovido pela Fundação Araucária.
O incentivo foi concedido a pesquisadores com comprovada excelência na produção dos projetos que desenvolvem. Trata-se de um importante reconhecimento da qualidade das pesquisas produzidas na instituição.
*Bolsista na Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação