AMAMENTA COACH

CCS


atualizado 1 ano atrás


Maria Dalben*

Agência UEL

É quase impossível imaginar a rotina do brasileiro sem o uso de aplicativos de celular, principalmente em um mundo pós-pandemia. Não é difícil encontrar, dentre os mais de 5 milhões de aplicativos móveis disponíveis para download na Play Store e Apple App Store, alguns que oferecem serviços que vão desde pagamento de faturas digitais até meditação guiada. Um aplicativo que oferece informações e orientações de amamentação para mães de bebês prematuros, por outro lado, já não é tão fácil assim.

Criar um coach virtual para mulheres passando pelo que pode ser um dos momentos mais delicados de suas vidas. De maneira simples, foi com essa visão que o projeto “Coaching de Enfermagem via app: uma abordagem inovadora para o aleitamento materno de bebês prematuros”, do Departamento de Enfermagem, iniciou sua jornada. O trabalho foi desenvolvido por uma equipe de mais de 30 pessoas e contou com contribuições e parcerias de outras instituições, profissionais e até de outros países.

O projeto é coordenado pela professora Edilaine Giovanini Rossetto, do Departamento de Enfermagem, e desenvolvido pela doutoranda Gabriela Ramos Curan, do Programa de Pós-graduação em Enfermagem (PPGENF) do Centro de Ciências da Saúde. Através da iniciativa, a pesquisadora recebeu bolsas dos Programas de Doutorado-Sanduíche (PDSE) e de Demanda Social da CAPES.

“Antes de elaborarmos o app, fizemos uma busca no mundo digital e em publicações científicas e achamos duas lacunas: a amamentação, e o aspecto educativo, mas que também tivesse a função de oferecer apoio. Nosso aplicativo foi pioneiro nesses sentidos”, afirma Edilaine Rossetto, coordenadora do projeto.

Serviço à comunidade

O Coaching de Enfermagem via app nunca teve a intenção de ficar apenas na área da pesquisa. Edilaine, docente aposentada com uma trajetória de mais de 30 anos de UEL, conta que sempre nutriu uma forte paixão pela área de Neonatologia e acredita que o projeto descende da fusão entre teoria e prática. “Eu sempre acreditei em uma pesquisa que não fosse de prateleira, mas uma que devolvesse para a comunidade as coisas que ela está precisando”, afirma.

No Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e na Residência, a qual Edilaine foi coordenadora por 16 anos, o contato e o cuidado com bebês prematuros foi base de diversos estudos dos alunos e docentes. “O prematuro é um bebezinho que demanda cuidado muito especializado. A sobrevida dele é extremamente complicada”, relata a enfermeira. “Amamentar um bebê prematuro é um desafio maior ainda. Assim, para ajudar mais essas mães a ter sucesso na amamentação, pensamos na criação de um aplicativo”, expõe.

Segundo a coordenadora, muitas vezes os recursos humanos não são suficientes para suprir os cuidados com as novas mães. Há 4 anos, em uma época de distanciamento, medo e mudanças sociais nunca antes vistas, isso se ampliou ainda mais. “Na pandemia, com todas as novas possibilidades de comunicação, as necessidades casaram com o projeto. Nossa iniciativa ganhou uma importância diferenciada em uma época de pandemia”, explica.

Em dezembro de 2020, após estudos com mães do Hospital Universitário de Londrina e da Universidade Federal de Goiás (UFG), foi concluída a primeira versão do Amamenta Coach. No aplicativo, as usuárias têm acesso a um diário para registro de sua jornada de amamentação, informações sobre os cuidados e a rotina com o prematuro e a retirada do leite, além de dicas e motivação personalizada
a fim de incentivar as mães durante o processo.

Coach Virtual

“O nascimento de um prematuro vem na contramão de todos os sonhos e desejos de uma família que pensa em conceber um filho”, conta Edilaine. Segundo levantamento produzido pela Organização Mundial da Saúde e Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a taxa de nascimento de bebês prematuros em 2020 no Brasil era de 11,1%. Ou seja, para 11,1% das famílias brasileiras, explica a coordenadora, a precocidade de um momento tão aguardado se torna muito delicado para os pais, e gera uma série de problemas e dificuldades.

“Os primeiros problemas começam com o próprio prematuro, que não está pronto para viver fora da barriga da mulher. Ele é encaminhado para uma UTI, ou para uma Unidade de Cuidados Intermediários, para ter ajuda para respirar, alimentar-se, e para ter ajuda no funcionamento total de seu organismo. A família vive esse estresse, de diariamente ver o que aconteceu com a saúde dele, de saber se teve evolução, sucesso ou fracasso de um dia para o outro. É muito angustiante”, descreve.

Em meio a tanta angústia e ansiedade, a mãe pode fazer a diferença na recuperação do filho através da produção de leite. O desafio é “produzir leite sem que o bebê mame. É a sucção que comanda a produção”, explica a enfermeira. A produção também depende de fatores emocionais, o que dificulta ainda mais o processo. “Com essa demanda que a equipe médica traz para a mãe, vem a dificuldade de ‘como que eu faço isso?’ Assim, o aplicativo tem uma intenção informativa de explicar como fazer de forma técnica, quantas vezes por dia, qual é o manejo, qual é a massagem etc., além de animá-la e incentivá-la”, acrescenta.

O ‘lado coach’ do aplicativo é o maior diferencial oferecido às mães, e conta com uma pesquisa baseada na Psicologia Positiva, conceito criado por Martin Seligman, psicólogo e professor na Universidade da Pensilvânia. “O coaching se baseia muito no autoconhecimento”, esclarece Edilaine: “a pessoa aprende a olhar para dentro de si, compreender o que está acontecendo com ela, o que está a atrapalhando e o que está ajudando”.

Além das fronteiras

Com centenas de downloads desde o lançamento do Amamenta Coach, o aplicativo transpassou o limite das telas e das fronteiras. Em 2022, a partir do Doutorado-sanduíche que a desenvolvedora Gabriela Curan fez no Canadá, o app começou a ser desenvolvido para a língua inglesa e para uma cultura muito diferente. “Com a parceria com a equipe do Canadá, o aplicativo foi adaptado e validado para o inglês dos canadenses. Agrega demais, não só para o projeto, mas para todos os participantes, pois abrimos nosso olhar para ver com olhos de culturas diferentes. Isso amplia muito o nosso horizonte, o nosso saber e a nossa competência de poder ajudar o outro”, celebra Edilaine.

A coordenadora adentra a aposentadoria sabendo que ela, Gabriela Curan e toda a equipe do projeto deixaram um legado não só na Universidade ou no HU, mas na vida de cada mãe amparada pelo aplicativo. “Essas crianças conseguiram ser amamentadas e essas mulheres conseguiram atravessar a jornada com um pouco menos de dor e dificuldade. Isso é um legado que não conseguimos mensurar”, conclui.

*Estagiária de Jornalismo na COM/UEL.

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