ESTUDO SOBRE ALTERAÇÕES NA SAÚDE BUCAL EM USUÁRIOS DE TABACO E CIGARROS ELETRÔNICOS É PUBLICADO EM REVISTA NORTE-AMERICANA.
CCS
atualizado 3 meses atrás
Perobal Uel
Docente no Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil (CCS) e na Clínica Odontológica Universitária (COU) da UEL, o professor Ademar Takahama Júnior já se deparou com muitas situações envolvendo enfermidades na cavidade bucal cujo surgimento possui íntima relação com o tabagismo, como o câncer de boca. Em meio à popularização de novas formas de consumo do tabaco entre os jovens, principalmente com os Vapes e Pods (cigarros eletrônicos), o professor criou um grupo de pesquisa e deu início a um estudo com o objetivo de realizar um levantamento de dados e reforçar o alerta sobre os danos à saúde.
Os resultados sugerem que o consumo de cigarros eletrônicos acelera o aparecimento de lesões, como manchas brancas de cáries e inflamações na gengiva (Gengivite). Este estudo desenvolvido na UEL, também já recebeu um reconhecimento internacional ao estampar a capa da edição de agosto do The Journal of the American Dental Association (JADA), um dos principais periódicos acadêmicos da área em todo o mundo.
Com o objetivo de produzir dados ainda mais amplos, o estudo foi dividido em duas fases e contou com a participação de 620 voluntários na primeira e 300 na segunda. A média de idade registrada foi de 22,5 anos, com maior participação feminina (67,37%). A primeira fase objetivou determinar a prevalência do uso de tabaco entre jovens e adultos e, na segunda etapa, os participantes foram examinados na Clínica Odontológica Universitária.
Para avaliar os efeitos do uso do tabaco, foram consideradas diversas formas de consumo da substância, incluindo os cigarros tradicionais, os cachimbos de origem oriental – narguilés – e o fumo para mascar, em associação ou não aos cigarros eletrônicos.
O estudo que destaca o fenômeno foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa “Formas Alternativas de Consumo de Tabaco entre Estudantes Universitários e a sua Relação com a Saúde Bucal”, que surgiu em meio à pandemia da Covid-19 e ao boom no consumo de tabaco e bebidas alcoólicas entre jovens e adolescentes.
Além do professor, assinam o artigo a docente do Departamento de Medicina Oral e Odontologia Infantil da UEL Maria Luiza Hiromi Iwakura Kasai e os seguintes estudantes: Beatriz de Fatima Soares Garcia, Beatriz de Barros Nascimento, Esther Ferreira Marques, Camila Beatriz Dantas de Jesus, Inacio Celestino Santana Neto, Larissa Serra Taborda Rocha, Gustavo Mortari Sales de Oliveira e Maria Isadora Bazaglia da Silva.
Resultados
Quando questionados se haviam feito o uso do tabaco nos últimos doze meses e com múltiplas opções de respostas, 294 participantes (47,4%) responderam positivamente para os cigarros eletrônicos; 152 (24,5%) para narguilés (water pipes); 14 (2,3%) para o fumo de mascar (chewing tobacco) e 148 (23,9%) para os cigarros tradicionais. Neste caso, foram considerados apenas os participantes com frequência de uso semanal. Ao mesmo tempo, 266 participantes (42,9%) dos 620 participantes afirmaram não terem consumido tabaco algum no período.
Na segunda fase do estudo, 300 participantes foram examinados, sendo que 165 (55%) do grupo confirmou ter consumido tabaco ao menos uma vez por semana nos últimos doze meses. Destes, 54 (18%) eram usuários apenas de cigarros eletrônicos, 37 (12,33%) usavam cigarros eletrônicos e narguilés, 14 (4,67%) apenas narguilé e 15 (5%) apenas cigarros tradicionais.
Os resultados da pesquisa, explica o professor, indicam que o uso de cigarros eletrônicos tem relação com o aparecimento de manchas brancas de cáries e com ainda maior risco para o desenvolvimento de gengivite, condição marcada pela inflamação da gengiva.
“Observamos que várias alterações foram mais comuns no grupo que usava tabaco, principalmente com cigarro eletrônico, o que foi confirmado pelo teste estatístico. Ou seja, vimos que alterações como ‘mancha branca de cárie’ e ‘gengivite’ foram estatisticamente mais comuns nos usuários de cigarros eletrônicos se comparado a quem não utiliza”, explica Takahama Júnior.
Outras alterações
Outra enfermidade preocupante encontrada em 8% dos participantes que disseram consumir cigarros eletrônicos e narguilés foi a Estomatite Nicotínica, uma alteração na mucosa da boca que pode ser notada pelo embranquecimento do palato. “É uma alteração clínica bem conhecida em fumantes de cigarro convencional mostra que a boca está sofrendo com os efeitos nocivos do tabaco”, destaca o professor.
Ainda com base no estudo, o tabagismo também aparece relacionado à perda dos dentes e ao manchamento do esmalte, além de alterações como a exposição da raiz causada pela Recessão Gengival. Este fenômeno resulta em desconforto, sensibilidade extrema e fortes dores nos dentes afetados.
O próximo objetivo, destaca o professor, é compreender quais alterações específicas o cigarro eletrônico pode causar na cavidade oral e que facilitam o desenvolvimento dessas lesões. Para isso, um segundo projeto já está em andamento e tem o objetivo de avaliar a composição química da saliva dos usuários de cigarros eletrônicos. Este projeto está sendo realizado em conjunto com o professor Fabio Melquíades, do Departamento de Física da UEL, adianta.
Conscientização
Criados na China por volta do ano 2000, os cigarros eletrônicos surgiram como uma alternativa para quem desejava largar o cigarro tradicional. No entanto, a estratégia não apenas se mostrou ineficaz como retomou o crescimento do consumo de tabaco em todo o mundo, justamente em um momento de queda, conforme aborda a série documental “Big Vape” (R.J. Cutler) lançada no ano passado pela Netflix.
“Eles têm nicotina e causam dependência”, reafirma o professor.
Embora tenham passado por diversas atualizações, a comercialização, importação e propaganda sobre os “Dispositivos Eletrônicos para Fumar” (DEFs) – classificação adotada no Brasil – estão proibidas desde abril de 2024 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, podem ser adquiridos facilmente em pequenos comércios nos municípios do País, representando um negócio multibilionário. “Existem estudos já mostrando que o jovem começa com o cigarro eletrônico e passa para o cigarro convencional, então, está fazendo o inverso”, lamenta o docente coordenador do estudo.