Dia Mundial de Limpeza de Rios e Mares mobilizou extensionistas da UEL neste fim de semana
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atualizado 4 horas atrás

Em alusão ao Dia Mundial da Limpeza de Rios e Mares, o Sesc organizou a limpeza e o plantio de árvores nativas no Centro Cultural Kaingang
Leiliani de Castro*
Na manhã deste sábado (20), o Sesc promoveu a quinta edição de um mutirão focado na limpeza, conscientização e reflorestamento, motivado pelo Dia Mundial da Limpeza de Rios e Mares. A ação se desenvolveu no Centro Cultural Kaingang, às margens da Avenida Dez de Dezembro, numa manhã quente e ensolarada. Pula pula para as crianças; água, banheiros químicos e materiais de limpeza estiveram à disposição dos voluntários, estes oriundos de vários segmentos da sociedade.

Vanessa Francisquini Gonçalves é técnica de educação em saúde no Sesc Londrina Norte e esteve à frente da organização. Gonçalves relata que a escolha do local se deu em parceria com o poder público: “a gente tem vários pontos onde há o descarte irregular de resíduos, mas optamos, junto à nossa equipe técnica e à prefeitura, que este seria o melhor lugar por conta do número de pessoas que são atingidas por conta desse descarte irregular, e também pelo número de comunidades ao entorno, que são afetadas”, conta.
A técnica estipulou a presença de cerca de 150 voluntários, oriundos da Sanepar, da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização de Londrina (CMTU), da prefeitura (através de seu setor de epidemiologias), da Universidade Estadual de Londrina (UEL), da ONG Eletro, da Decathlon e do Tiro de Guerra. Para o bom funcionamento da operação, foram realizadas contratações diversas, dentre elas a de banheiros químicos e a de uma ambulância.

A própria comunidade teve papel exemplar na orientação dos voluntários. Moradores engajaram na limpeza, bem como no descarte de móveis, orientação acerca do reflorestamento e, dentre os cinco grupos formados, cada um deles contava com uma liderança local, guiando os trabalhos.

A limpeza resultou na retirada de materiais recicláveis, resíduos e orgânicos. Uma cooperativa ficou responsável pela coleta dos recicláveis. E a CMTU, por sua vez, por recolher os resíduos, móveis, material de construção civil e madeira.
Um rio que tem história
O pai do cacique Renato Kriri contava a ele sobre o rio Cambézinho. Este que chamamos de Ribeirão Cambé e que corta o Centro Cultural. Segundo o cacique, seu pai “ajudou a criar a cidade de Londrina, vinha buscar água nesse rio. Estavam desmatando a mata para colocar a cidade”. Eram impressionantes os tamanhos das árvores. “Iam 3 ou 4 machadeiros para derrubar uma”. E relembra: “Naquele tempo era trabalho escravo. Ganhou só ferramentas. Facão, foice”, conta.
Nos anos 2000, Renato Kriri veio da Terra Indígena Apucaraninha para o que hoje é o Centro Cultural Kaingang, o Vãre. No início do milênio, moravam ali somente 8 famílias, ao passo que hoje em dia são quase 60. Apesar da ferida colonial trazida pela história do pai, Kriri aproveitou a ocasião para levar uma mensagem de amizade aos não-indígenas presentes: “Temos que dar as mãos uns aos outros”, dizia aos curiosos voluntários.

Renato Kriri deu boas vindas a todos e atendeu a estudantes e trabalhadores curiosos sobre sua cultura e modo de vida. Ele fez parte da iniciativa de reflorestamento, auxiliando no plantio de árvores. “Eu, como liderança, acho que esse tipo de trabalho também poderia ser feito em fundos de vale, principalmente na beira dos rios. As árvores nativas preservam a água também, tanto quanto a respiração, o ar puro”, provoca. “Nós indígenas somos a natureza. A gente é preservador, cuidamos e respeitamos também”, afirma. Para o líder do Vãre, esta dinâmica junto aos não indígenas pode ser a semente para mais iniciativas de preservação e aprendizagem uns com os outros.

Extensionistas da UEL beneficiam a comunidade
Pedro Delfino é estudante do segundo ano de Ciências Biológicas. O encanto pela vida o levou a estudá-la em suas mais diversas formas na UEL. Delfino integra o PET-BIO e participou do plantio de árvores no Vãre. “O trabalho que fizemos aqui é fundamental para o ambiente, o reflorestamento com plantas nativas é muito importante para a biodiversidade”, ressalta.
A extensão tem apresentado a Pedro mundos que ele não imaginava. “É algo muito deslumbrante para mim”, comenta. “Preparamos o terreno e plantamos árvores nativas da região”. Ipês, embaúbas e árvores frutíferas.
O docente Emerson José Venancio, tutor do PET-BIO, pôs a mão na massa junto aos estudantes que participaram da ação. O professor comentou com a reportagem que “a sociedade vai olhar que tem pessoas que estão fazendo essa ação, vão refletir sobre o porquê, e isso é fundamental para que a gente tenha um futuro melhor, uma educação ambiental, um ambiente melhor no futuro”.

Quem tem medo de dentista? Saúde bucal no Vãre
Dez estudantes de Odontologia saíram do campus às 7h30, rumo ao Centro Cultural Kaingang. O grupo, animado, tinha em mãos materiais lúdicos de confecção própria. Foram vestidos com os seus jalecos e levaram imagens, protótipos, entre outros recursos facilitadores da divulgação acerca da saúde bucal. Junto aos estudantes de Ciências Biológicas, embarcaram no ônibus, conduzido pelo motorista José Delfim. Às 8h já iniciavam seus trabalhos.
Participantes do PET Odontologia e integrantes dos projetos “Atenção em saúde bucal para escolares e comunidade”, “Prevenção e promoção da saúde bucal para pacientes da terceira idade”, orientados pela professora Maura Sassahara Higasi, prestaram serviços de conscientização à comunidade local. Além de falar sobre a boa higiene bucal e a alimentação saudável, conversaram “sobre o uso do álcool, uso do cigarro, lesões bucais”, segundo Higasi. Para a professora, a acolhida do cacique foi muito importante: “Eu acho que a gente precisa trazer para a Odontologia essa diversidade cultural”, comenta.

William Maffei está prestes a se formar e conheceu o Centro Cultural Kaingang pela primeira vez. Para ele, levar a pauta educativa para além do ambulatório faz diferença. Maffei explica: “A educação em saúde bucal é muito importante. Esse tipo de atividade evita que muitos problemas que poderiam surgir lá na frente aconteçam”. Ele complementa: “se tivermos a oportunidade de voltar, eles já vão nos conhecer”, algo que avalia de maneira positiva.
Guilherme Augusto Silva Santos, por sua vez, procurou o PET Odontologia pela dimensão humanizada que as atividades oferecem. “Você faz o papel com a comunidade e desenvolve a fala. O PET ajuda você a conversar com todo o tipo de público. Idoso, criança”, afirma. “Foi uma experiência muito boa ter essa troca de cultura, nossa entrada aqui é muito importante”, avalia.
O projeto de extensão voltado à saúde bucal celebra 33 anos de história, sempre trazendo novos alcances ao seu atendimento. Em escolas, no calçadão de Londrina, em igrejas. Onde houver abertura ou convites, os extensionistas vão. “Esses projetos fora da faculdade, tanto pelo saúde bucal, quanto pelo PET, faz com que a gente se aproxime da comunidade em geral, de todo o tipo de pessoa”, comenta Maria Luisa Faria, estudante de Odontologia.
A UEL, por meio da Clínica Odontológica, acolhe encaminhamentos das Unidades Básicas de Saúde, feitos por meio de cartas. “A gente orientou o cacique, caso alguém relatasse para ele alguma situação parecida, para procurar um dentista, para fazer um tratamento”, divulga Maria Luisa.

Perguntada pela reportagem sobre o “medo de dentista”, Maria Luisa afirma que a abordagem extensionista auxilia os estudantes a dialogarem com o público, desde crianças e adolescentes a idosos. “Essa comunicação ajuda muito, tanto para conseguir a informação, quanto para atender um paciente já de maneira mais aperfeiçoada”, considera.
*Bolsista na Pró-Reitoria de Extensão, Cultura e Sociedade