Londrina caminha para um futuro coberto de fumaça
Revista Jornalismo & Ficção
atualizado 1 mês atrás
Situada no norte do Paraná, com 555 mil habitantes, a cidade registrou entre os dias 1 e 13 de setembro deste ano, 19 incêndios ambientais. Esses dados sinalizam um desesperador aumento de aproximadamente 173% de incêndios para o mesmo período do ano passado.
Texto e foto: Luiz Fernando Abreu
Nós, moradores de Londrina, assim como grande parte da população do Brasil e de países vizinhos, sentimos na pele os impactos do aumento das queimadas em 2024. Desde o início de setembro, a cidade segue coberta por uma fumaça que torna o cotidiano cada vez mais pálido e insalubre. Para piorar, tal cenário tende a se tornar frequente de uma forma incômoda, pois considerando o número de incêndios ambientais na cidade, é de se esperar que ainda há muita fumaça por vir.
É claro, os altos níveis de fuligem na atmosfera são resultantes das queimadas em todo o país. Episódios como a “chuva negra” e mortes de animais silvestres foram relatados em vários lugares. Porém, antes de apontar dedos e mirar somente no cenário macro, é importante considerar qual tem sido a contribuição de Londrina no problema.
Os números não mentem. Neste ano, segundo relatório oficial do Sistema de Registro de Ocorrências e Estatísticas do Corpo de Bombeiros (SysBM), o 3º Grupamento de Bombeiros (GB) de Londrina atendeu, na semana do dia 2 ao dia 8 de setembro, 28 incêndios ambientais no município. Do início do mês até o dia 13, foram 52 ocorrências do mesmo tipo, o que, em ambos os casos, dá uma média de quatro atendimentos por dia.
Algumas pessoas, principalmente as que preferem fugir desse tipo de preocupação, podem até considerar que, para uma cidade com pouco mais de 555 mil habitantes, é um número “regular” de ocorrências. Mas e se compararmos ao mesmo período do ano passado? Do dia 1º até o dia 13 de setembro de 2023, o 3º GB atendeu 19 incêndios ambientais na cidade, o que sinaliza um desesperador aumento de aproximadamente 173% neste ano.
A situação torna-se ainda mais angustiante se considerarmos os números totais do ano passado com os deste ano. Em 2023, de janeiro até setembro, houve 236 incêndios ambientais em Londrina. Em 2024, até o dia 13 de setembro, foram 361. Com dois meses e meio faltando para o fim do ano, existe a possibilidade de que a cidade dobre o número de queimadas em comparação ao ano anterior, o que nos leva a pensar “E no ano seguinte? E no depois dele?”.
Em tempos de angústia e ansiedade ambiental, é de se esperar que os governantes arregacem as mangas e destinem recursos para tentar controlar a situação e minimizar as consequências. Todavia, a medida adotada pelo Governo do Paraná foi, no mínimo, decepcionante.
O governador Carlos Massa Ratinho Júnior liberou, na quarta-feira (11), um total de R$ 5 milhões do Fundo de Calamidades Públicas (Fecap) para ser dividido por todas as 399 cidades do Paraná, ou pelo menos para aquelas que se encontram em situação de emergência no período de estiagem. Entretanto, o decreto 7.258/2024 prevê que tal situação se dá em todo o Estado, o que leva a crer que, de fato, são R$ 5 milhões para os municípios partilharem.
O “troco de pinga” do governador deve ser liberado somente aos municípios que solicitarem o recurso. O valor deve ser gasto em cestas básicas para atender a população afetada, caminhões pipa e até o combustível dos veículos. Há também a possibilidade de requerimento de cisternas móveis para atender comunidades em locais afastados dos centros urbanos. Tudo isso, novamente, com R$ 5 milhões para 399 municípios.
O fato é que incêndios florestais e a perda na qualidade do ar se tornarão cada vez mais comuns, sinalizando que talvez esse seja o prelúdio do fim do mundo que nós, como espécie humana, conhecemos. E esse fim é, de alguma forma, decepcionante. Séries, filmes e livros nos venderam a ideia de que o fim do mundo seria uma jornada trágica, mas também heroica e gloriosa. Mas a verdade é um longo, desesperador e sufocante banho-maria onde nós ainda temos que acordar e ir para o trabalho.
Texto produzido pelo estudante do curso de Jornalismo da UEL e editor da revista Jornalismo & Ficção Luiz Fernando Abreu, sob supervisão do professor Reinaldo César Zanardi, para o webjornal PreTexto UEL, como parte integrante da disciplina de Jornalismo e Convergência Digital I.