O labirinto do general Bolívar

Revista Jornalismo & Ficção


atualizado 3 meses atrás


Arte: Giulia Carradore

O general em seu labirinto, escrito por Gabriel García Márquez, trata da última viagem de Simón Bolívar, passando por cidades às margens do rio Magdalena, na Colômbia. Gabo disponibiliza uma narrativa mágica dos acontecimentos nos últimos dias de vida de Bolívar. O período menos documentado da vida de “El Libertador”.

Texto: Marlon Pimentel @marlon_calebe
Arte: Giulia Carradore @giiu_carradore

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Nos agradecimentos finais da obra, García Márquez conta: “Durante dois longos anos fui me afundando nas areias movediças de uma documentação torrencial, contraditória e muitas vezes incerta, desde os trinta e quatro volumes de Daniel Florencio O’Leary até os recortes de jornais menos imaginados. Minha absoluta falta de experiência em matéria de investigação histórica tornou ainda mais árduos os meus dias” (GGM, 2007, p. 268).

Simón José Antonio de la Santísima Trinidad Bolívar y Palacios, foi um militar e político venezuelano que lutou pela independência da América Espanhola. Acompanhe o folhetinsta “O labirinto do general Bolívar” e saiba mais sobre aspectos míticos e históricos do personagem no livro de Gabo.

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Após sua renúncia à presidência da Grã-Colômbia (1930), Simón Bolívar não se reconhece como o homem que foi há alguns anos, sentindo-se exilado na grande Santa Fé de Bogotá. O que o fez deixar a cidade em poucos dias.

“Em nenhum lugar se sentira tão forasteiro como nessas ruelas ermas com casas iguais de telhados pardos e jardins internos com flores cheirosas, onde se cozinhava a fogo lento uma comunidade aldeã, cujas maneiras alambicadas e cujo dialeto ladino mais serviam para ocultar do que para dizer.” (GGM, 2007, p. 46)

El libertador, como era conhecido em boa parte da América, já não podia mudar seu passado e muito menos os comentários que os moradores de Bogotá teciam sobre sua moral. A mesma Santa Fé que o aplaudiu com o triunfo sobre os espanhóis, agora estampa insultos em muros dirigidos a Bolívar. No fatídico 8 de maio de 1930, ele se despedia da cidade e dava início ao seu labirinto sem retorno.

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Em meio a recepção desastrosa na sua chegada ao porto de Honda, a breve estadia de Simón Bolívar conquistaria grande espaço em sua memória. Poucos dias trouxeram à tona seus anos de jovem revolucionário na Jamaica.

Noites de valsa após os banquetes para impressionar seus convidados, passeios pelas minas de prata em Santa Ana. Momentos que demonstraram uma repentina evolução na saúde de Bolívar. Mas nem o maior dos feitos escondia as costelas sobressalentes, a pele pálida e o cabelo ralo, que indicavam a gravidade da sua doença.

“Dessa vez, de qualquer modo, nadou sem cansaço durante meia hora, mas os que viram suas costelas de cachorro e suas pernas raquíticas não entenderam como podia continuar vivo com tão pouco corpo.“ (GGM, 2007, p. 79)

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“Dessa vez, o general chegava tão desiludido de sua glória e tão predisposto contra o mundo que ficou surpreendido ao encontrar uma multidão à sua espera no porto” (GGM, 2007, p. 109).

Mompox, que era chamada por Bolívar como “terra de Deus”, carregava um ar de seu passado turbulento. Seus inimigos usaram suas estadias passadas na cidade para criar histórias promíscuas e atribuir a moral do general, mas mesmo com essas tentativas, o povo de Mompox amava seu libertador.

Bolívar chegou em meio a um velório na igreja da Conceição, que prontamente foi interrompido pela sua chegada. Muitos correram para ver a descida do “presidente” no porto de Mompox, apesar desse cargo não ser mais de Simón, todos o consideravam ainda nesse posto.

Enquanto o finado era sepultado, só com a presença de parentes e amigos íntimos, o general, que por várias vezes tinha sido comparado a um defunto pela sua condição física, desfilava pelas ruas com um pálio (estrutura de varas e cobertura de seda) cedida pelo vigário local.

GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. O general em seu labirinto. Tradução de Moacir Werneck de Castro. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007.


Marlon Pimentel é estudante de Jornalismo e integrou o Grupo Gabo de Pesquisa entre 2023 e 2024. Folhetinsta desenvolvido no Projeto de Iniciação Científica “A construção do mito na obra O general em seu labirinto, de Gabriel García Márquez”. Giulia Carradore, jornalista formada pela UEL, participou do grupo Gabo de Pesquisa entre 2023 e 2024, atuando na criação de ilustrações.

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