Registros da ditadura militar
Revista Jornalismo & Ficção
atualizado 6 dias atrás

Uma seleção de livros e suas adaptações cinematográficas que trazem um tema em comum: a ditadura militar. Publicado em formato folhetinsta, o texto faz parte da revista Película, uma publicação sobre cinema latino-americano, desenvolvida como TCC em Jornalismo na Universidade Estadual de Londrina (UEL) por Fernanda Ortenzi, sob orientação da professora Márcia Neme Buzalaf.
Texto e produção de imagem: Fernanda Ortenzi
Imagens: Divulgação
Uma história pode ser contada de várias formas diferentes, em mídias diferentes e por pessoas diferentes. Aqui são apresentados seis livros que foram traduzidos das páginas para as telas e tratam sobre a ditadura militar.
O regime, que durou de 1964 até 1985, foi marcado por violência e repressão, deixou inúmeras consequências na sociedade brasileira. Os livros e filmes apresentados mostram algumas perspectivas sobre esse período.

Ainda Estou Aqui
Publicado pela primeira vez, pela Alfaguara, em 2015, este livro de memórias de Marcelo Rubens Paiva conta a história da mãe do autor, Eunice Paiva, e do desaparecimento do pai dele, Rubens Paiva, que foi preso, torturado e morto pela ditadura militar. Eunice teve que cuidar dos filhos sozinha, se tornou advogada e passou a defender direitos indígenas. A obra também fala sobre a luta dela contra o Alzheimer.
O livro deu origem ao filme Ainda Estou Aqui (2024), dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, como Eunice, e Selton Mello, como Rubens. Com roteiro assinado por Murilo Hauser e Heitor Lorega, o longa teve sua estreia no Festival Internacional de Cinema de Veneza, recebeu mais de 30 prêmios, inclusive o Oscar de Melhor Filme Internacional.

As meninas
O romance de Lygia Fagundes Telles, publicado originalmente pela José Olympio em 1973, se passa em um pensionato de freiras de São Paulo no início da década de 70, em meio à ditadura militar. A trama acompanha as universitárias Lorena, Lia e Ana Clara. As vidas diferentes que as três meninas levam se entrelaçam, mostrando, entre outras questões, a repressão política da época. O livro também conta com uma edição publicada em 2009 pela Cia. das Letras.
O diretor Emiliano Ribeiro trouxe as personagens para a tela no filme As meninas (1995). O elenco conta com Adriana Esteves, Drica Moraes e Cláudia Liz nos papéis principais, com roteiro de David Neves.

Batismo de sangue: Guerrilha e morte de Carlos Marighella
Livro de não-ficção, publicado em 1982, em que Frei Betto traça o perfil do político e guerrilheiro Carlos Marighella, que combateu a ditadura militar. O autor narra episódios em torno da morte de Marighella e conta sobre a participação de frades dominicanos na guerrilha. A obra ganhou o prêmio Jabuti na categoria de melhor livro de memórias.
Esse livro foi para o cinema em Batismo de Sangue (2006), dirigido por Helvécio Ratton, estrelado por Caio Blat e com roteiro de Ratton e Dani Patarra. No longa, cinco frades dominicanos se envolvem com a guerrilha para combater a ditadura militar durante os anos 1960.

Prova contrária
Este livro do romancista, dramaturgo e roteirista Fernando Bonassi trata sobre a compra de um apartamento e os traumas e fantasmas do passado que esse evento pode trazer à tona.
Publicada em 2003, pela Objetiva, a obra inspirou o filme Hoje (2011), dirigido por Tata Amaral e escrito por Jean-Claude Bernardet, Rubens Rewald e Felipe Sholl. A trama acompanha uma ex-militante que recebe uma indenização do governo brasileiro pelo desaparecimento de seu marido durante a ditadura militar e compra um apartamento com o dinheiro.

Marighella: O guerrilheiro que incendiou o mundo
O jornalista Mário Magalhães investiga a vida de Carlos Marighella (1911-1969) nesta biografia lançada em 2012, pela Cia. Das Letras. Marighella atuou como militante comunista desde a juventude, foi deputado federal e fundou a Ação Libertadora Nacional, grupo que fazia oposição à ditadura militar. Considerado inimigo do regime, Marighella foi assassinado em uma emboscada policial em 1969.
O filme Marighella (2019) adapta parte dessa história, focando na atuação do político, escritor e guerrilheiro na luta contra a ditadura. A direção é do ator e diretor Wagner Moura, o roteiro é de Moura e Felipe Braga, e quem interpreta o personagem titular é o Seu Jorge.

O beijo da mulher aranha
Este livro é um pouco diferente dos outros da lista, já que é argentino e não brasileiro, mas deu origem a um filme brasileiro e estadunidense. O romance de Manuel Puig, publicado em 1976, retrata o vínculo criado entre um preso político, Valentin, e seu companheiro de cela, Molina.
O filme O beijo da mulher aranha (1985) foi dirigido por Héctor Babenco, com roteiro de Leonard Schrader e estrelado por Raul Julia, William Hunt e Sônia Braga. O longa é falado em inglês, mas se passa em um presídio latino-americano durante uma ditadura. Mescla conversas entre os dois personagens com cenas de um filme dentro do filme que Molina conta para Valentin.
Fernanda Ortenzi é jornalista, formada pela UEL. Como estudante, integrou o Grupo Gabo de Pesquisa com o projeto de Iniciação Científica sobre “Cinema segundo García Márquez” e foi assistente de edição da revista Jornalismo & Ficção: América Latina.