Conselho Universitário aprovou por unanimidade o relatório final da Comissão da Verdade da UEL

CLCH


atualizado 3 dias atrás


A Universidade Estadual de Londrina (UEL) viveu um momento histórico na última sexta-feira (3 de Outubro), quando o Conselho Universitário aprovou por unanimidade o relatório final da Comissão da Verdade da UEL — um documento de quase 500 páginas que registra violações de direitos humanos sofridas por membros da comunidade acadêmica durante a ditadura militar (1964–1985). Mais do que um marco institucional, a sessão foi marcada pelo reconhecimento ao papel transformador de professores que foram vítimas, testemunhas e defensores da democracia. O relatório traz o nome da professora Joana D’Arc Bizzoto Lopes, que lecionou na UEL entre 1972 e 1975 e teve sua trajetória interrompida pelo regime militar. Em homenagem à sua resistência, a Comissão decidiu eternizar seu nome no documento.

À frente dos trabalhos da Comissão esteve o professor César Bessa, presidente do grupo, que ressaltou a importância de enfrentar o passado: “Este relatório esclarece fatos que não podem ser esquecidos. Não se trata de revanchismo; é reconhecer a dor e fortalecer a democracia na Universidade”.

O professor André Lopes Ferreira, integrante da Comissão, destacou que a própria estrutura física da UEL foi pensada para dificultar a convivência e organização dos estudantes, uma herança do acordo MEC-USAID, firmado durante o regime. Reitores professores: testemunhas e guardiões da história

A sessão contou com a presença de professores que ocuparam a Reitoria e que marcaram diferentes fases da democratização da instituição:

  • Jorge Bounassar Filho – primeiro reitor eleito da UEL (1986-1990)
  • João Carlos Thomson – reitor de 1990 a 1994
  • Berenice Quinzani Jordão – reitora de 2010 a 2014
  • Sérgio Carlos de Carvalho – reitor de 2018 a 2022

A professora aposentada Ângela Veregue de Araújo representou a também professora e ex-reitora Lygia Pupatto (2002-2006) . Dois docentes que vivenciaram diretamente perseguições políticas estiveram presentes:

  • Nelson Fujita
  • Heloísa Helena Santana

Ambos contribuíram com depoimentos que agora integram o acervo permanente da Universidade.

O professor aposentado Luís Carlos Bruschi também participou da sessão, ao lado da deputada federal Lenir de Assis, professora que foi ativa no movimento estudantil. O reitor em exercício, professor Airton Petris, emocionou a comunidade ao relembrar momentos de repressão vividos enquanto jovem estudante de Farmácia: “Eu resisti. Essa memória precisa ser preservada para que ninguém mais seja impedido de estudar ou de viver dentro do campus da UEL”. Entre as propostas destacadas no relatório, está o reconhecimento póstumo ao professor Tsutomu Higashi, demitido injustamente pela ditadura.

Outras medidas incluem:

  • Marco memorial no Campus para professores e estudantes perseguidos
  • Observatório Permanente de Direitos Humanos
  • Ações de reparação simbólica à comunidade atingida pela vigilância do SNI e DOPS
  • Revitalização da sede do DCE
  • Proposta de nomeação do Campus com o nome do professor Ascêncio Garcia Lopes, primeiro reitor da UEL

Com a aprovação do relatório, a UEL reforça que sua história é marcada pelo engajamento e coragem de professores que defenderam a liberdade acadêmica mesmo sob ameaça. O documento agora passa a integrar a memória institucional e a orientar ações permanentes de defesa dos direitos humanos.

O relatório final da Comissão da Verdade está disponível para consulta pública no Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica (NDPH), localizado no Centro de Letras e Ciências Humanas (CCH) da UEL.

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