‘Primeira noite de sono tranquilo’: abrigos femininos trazem segurança a mulheres em Porto Alegre (RS)
CBN
atualizado 11 meses atrás
Por Bruno Teixeira— Porto Alegre
Após denúncias de abuso sexual em abrigos da região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi criado mais um abrigo exclusivo para mulheres, que funciona no Foro Regional do bairro do Partenon, na zona leste da capital gaúcha. Com isso, a cidade passa a contar com três abrigos femininos. Os locais são geridos pela prefeitura, junto com instituições da sociedade civil.O novo abrigo, no Partenon, tem capacidade para 50 mulheres, mas até o momento abriga cinco.
O local de acolhimento começou a funcionar ontem (13), de forma improvisada. Como o prédio foi adaptado às presas, filhos ainda não estão sendo recebidos já que não há proteção no local para crianças — a reportagem conversou com pessoas que relatam que essa falta de estrutura para receber crianças tem dificultado o recebimento de mulheres no local.
Os outros dois abrigos femininos em Porto Alegre recebem mulheres com filhos, mas não pets. Um deles é a Paróquia São Martinho, na Zona Sul. Há um limite de idade para meninos, que é de até 12 anos. Por lá, são 30 pessoas abrigadas atualmente, sendo 14 mulheres e 16 crianças. O espaço pode receber até 60 pessoas.
Fernanda Mendes Ribeiro, que é coordenadora de políticas públicas para mulheres de Porto Alegre, fala sobre a importância da criação desses espaços:
“Primeiro, para que se dê o mínimo de privacidade para essas mulheres que são mães solos ou mulheres sem filhos, e para se dar privacidade. E, segundo, garantir a integridade física dessas mulheres, porque sozinhas, em espaços coletivos, convivendo com homens desconhecidos, elas ficam muito à mercê e vulneráveis a esse tipo de situação. Tanto que, após a primeira noite, todas diziam que tinha sido a primeira noite de sono tranquila depois de 10 dias, porque elas não conseguiam relaxar e dormir durante a noite, preocupadas nos espaços coletivos mistos. Com medo, esse medo de acontecer alguma coisa no meio da noite. Porque são grandes espaços, cheios de colchões, e pessoas desconhecidas, tanto que dividir esse espaço, e mistos, você não sabe quem está ao seu lado. Estão todas elas muito preocupadas com isso, e principalmente as que tinham filhos.”
Bom, e essa preocupação a gente vai ouvir também na fala da Paola Goulart Jaques, de 27 anos, que saiu de casa no bairro Maitá no dia 4 de maio. Ela foi transferida para um abrigo misto, onde conta que foi bem atendida, não vivenciou nenhuma situação de abuso, mas mesmo assim convivia com a preocupação diária, já que não só ela, mas a filha também estava lá, e aí dividiam esses espaços com homens desconhecidos.
“Aqui é mais uma segurança para nós e para os nossos filhos, porque os boatos estavam rolando, a gente fica assustada. A Lívia é uma criança que era muito queridinha, ela vai com todo mundo, e esse era o meu maior medo lá, porque tinha a ala dos homens e ala das mulheres, mas no final a gente já estava usando o banheiro todo mundo junto, e aí estava uma coisa meio constrangedora, e aqui não, aqui são quartos individuais, com banheiros individuais, então a gente está se sentindo muito segura mesmo, de verdade.”
A reportagem da CBN pediu um balanço atualizado para a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul sobre número de prisões e também de ocorrências relacionadas a abuso e assédio. Na semana passada, quatro casos de abusos que teriam acontecido em alguns abrigos na região metropolitana foram denunciados.
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