Metodologia

Metodologia para produção de dados sobre Feminicídios/Mortes Violentas de Mulheres

O LESFEM realiza um trabalho de contra-dados, por meio de fontes não estatais sobre feminicídios no Brasil, notadamente notícias divulgadas por veículos de imprensa escrita no meio digital. Essa classificação adota o princípio das diretrizes e protocolos para investigação de mortes violentas de mulheres, os quais indicam que a primeira hipótese a ser investigada é a de feminicídio. 

O trabalho de classificação é norteado por dois documentos diretivos: (a) Diretrizes Nacionais Feminicídio: investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres, de 2016; (b) Protocolo para Investigar, Processar e Julgar as Mortes Violentas de Mulheres (Feminicídios) com Perspectivas de Gênero no Estado do Paraná, de 2021.

O levantamento das notícias no Brasil, de alcance nacional, é realizado primeiramente com o auxílio de uma ferramenta digital desenvolvida para essa finalidade pelo projeto do grupo Data + Feminism Lab – Department of Urban Studies and Planning, Massachusetts Institute of Technology. A ferramenta tem como finalidade dar mais precisão aos resultados de pesquisa sobre feminicídios em buscas na internet. 

Data + Feminism Lab (Laboratório de Dados + Feminismo) do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, é um parceiro internacional do LESFEM. Desde 2020, o Data + Feminism Lab é um dos coordenadores do projeto Data Against Feminicide (Dados Contra o Feminicídio) que tem entre os seus objetivos desenvolver ferramentas tecnológicas de apoio à coleta de dados sobre feminicídios por parte de ativistas que monitoram violência de gênero. O projeto Data Against Feminicide é desenvolvido a partir de uma parceria entre o Data + Feminism Lab, a Iniciativa Latinoamericana por los Datos Abiertos (ILDA) e o projeto Feminicidio Uruguay, da ativista-pesquisadora Helena Suárez Val.

Por meio de um processo de pesquisa participativa e de co-design junto com ativistas na América Latina e nos Estados Unidos, o projeto Data Against Feminicide desenvolveu duas ferramentas que servem de apoio à construção do banco de dados de notícias da imprensa no âmbito do LESFEM. A primeira ferramenta é o Data Against Feminicide Highlighter ou “destacador.”  A ferramenta é um plug-in para o navegador de Internet Chrome que, quando ativado, destaca palavras em uma página que podem ser relevantes para a identificação e registro em uma base de dados de informações sobre casos de feminicídio, como nomes, locais, datas e outras palavras que o usuário escolha. O plug-in funciona em Inglês, Espanhol e Português e permite ao usuário abrir sua base de dados ao lado do browser para facilitar o registro de dados, bem como compartilhar links com outras colaboradoras. O objetivo do destacador é aliviar o trabalho físico e emocional da leitura de notícias a respeito de casos de feminicídio e outras formas de violência. 

A segunda ferramenta é o Data Against Feminicide Email Alerts, um sistema automatizado de alertas por email de notícias com alta probabilidade de serem relacionadas a casos de feminicídio. O sistema usa palavras-chave específicas para buscar notícias existentes na base de dados do MediaCloud—que tem catálogos de mídia para várias regiões do mundo, inclusive o Brasil—e filtra os resultados a partir de um algoritmo de machine learning (aprendizado de máquina) que foi treinado especificamente para calcular a probabilidade de um artigo se referir a casos de feminicídio e agrupar notícias de diferentes fontes sobre o mesmo tema. Finalmente, o sistema envia alertas por email com os artigos relevantes, com a frequência de recebimento determinada por cada usuário, facilitando o trabalho de monitoramento. O sistema foi inicialmente desenvolvido para o Inglês e o Espanhol, mas o Data + Feminism Lab trabalhou no último ano com ativistas no Brasil, incluindo pesquisadoras do LESFEM, para treinar o algoritmo para identificação de notícias em Português. Dentre a equipe do Data + Feminism Lab, estão em colaboração direta com Laboratório de Estudos de Feminicídios no Brasil a diretora do laboratório, Catherine D’Ignazio (Professora de Ciência Urbana e Planejamento, Massachusetts Institute of Technology), a pesquisadora afiliada Isadora Cruxên (Professora de Negócios e Sociedade, Queen Mary University of London) e Alessandra Jungs de Almeida (Doutoranda em Relações Internacionais na UFSC e assistente de pesquisa no Data+Feminism Lab, MIT), as quais coordenam a colaboração com ativistas no Brasil.  

Após a compilação e categorização das notícias recebidas pelo Data Against Feminicide Email Alerts, fazemos uma segunda etapa de confrontação com notícias localizadas pelo sistema de buscas do Google, com uso de termos de buscas refinados para nossos objetivos, com a finalidade de identificar eventuais notícias não registradas no MediaCloud.

O trabalho de identificação e categorização das notícias de novos feminicídios/mortes violentas de mulheres no Brasil, tentados e consumados, é realizado periodicamente com o intuito de disponibilizar ao público interessado um levantado de dados atualizados e de fácil acesso, contribuindo assim para monitorar e visibilizar o feminicídio no Brasil.