Mudanças climáticas: como proceder?

Revista Jornalismo & Ficção


atualizado 2 dias atrás


“Ano passado foi quente? Foi o ano mais quente da história. Talvez ele seja o ano mais frio que veremos até o final das nossas vidas. Porque isso é mudança”, explica Atila Iamarino.

Por Maria Julia Pimenta

Que as mudanças climáticas estão acontecendo, já estamos cansados de saber – e sentir – mas ainda há tanta desinformação e sobrecarga do mesmo assunto que esta pauta foi abraçada pelo cotidiano da sociedade e agora só vivemos sabendo dela e nos conformando que não há muita esperança sobre o que ser feito. É nesse estado que o mundo afunda e pega fogo, ao mesmo tempo.

Em função disso, na quinta-feira, 29 de maio, foi promovida uma palestra na sede da OAB em Londrina, apresentada pelo biólogo e divulgador científico Atila Iamarino, que abordou a questão das mudanças climáticas. Ele começou sua fala desconstruindo mitos e falácias sobre o aquecimento global. Apresentou dados e estudos que comprovam que desde o início do século passado já se falava sobre os impactos que a industrialização desenfreada e o excesso de emissão de carbono na atmosfera poderiam causar no planeta e nos seres que nele vivem.

Ainda é possível fazer alguma coisa, garantiu Atila. “Chegamos a um ponto em que alguns aspectos podem ser irreversíveis. Agora só nos resta remediar. Mas ainda há outros, como a emissão de gases tóxicos e potencializadores do efeito estufa, poluição de rios e mares, desmatamento e queimadas, que ainda é muito viável interferirmos”, alertou o biólogo.

Átila apresentou uma pesquisa realizada pelo jornal britânico independente The Guardian, que reuniu centenas de cientistas climáticos para levantarem a questão: “Qual a ação climática mais poderosa que você consegue fazer? A visão especializada” (em tradução livre), publicada em maio de 2024, que buscou justamente questionar e apresentar para a população quais hábitos podemos abraçar ou abandonar que impactarão e ajudarão a combater as mudanças climáticas.

O resultado principal, e que mais impactou sobre hábitos individuais, foi sobre o VOTO, com 76% do apoio dos especialistas. Uma visão política do caso das mudanças climáticas é imprescindível para o combate de um inimigo em comum. Segundo a pesquisa, eleger candidatos que possuem uma pauta que visa políticas públicas de proteção ambiental, fiscalização, economia sustentável e manejo de áreas e populações em risco, influencia grandemente na causa do meio ambiente. Considerando que só na última eleição 5,4 milhões de brasileiros votaram branco ou nulo, ou seja, são 4,41% dos votos não considerados que poderiam ter sido usados para essa causa.

E Atila acrescentou: “Qual que eu mais recomendo pra vocês? Pode mudar o consumo, pode mudar o transporte, fazer isso, fazer aquilo? Faça, mas vote direito. Pense em quem você vai votar e exija isso, inclusive depois de eleger a pessoa”.

Os demais levantamentos apresentados pelos cientistas na pesquisa do The Guardian apontam outras ações corriqueiras, porém conscientes e ativas, que podemos adaptar gradativamente no nosso dia a dia, sendo elas:

  • Diminuir o consumo diário de carne: a OMS instrui que o consumo diário ideal para a saúde humana é de 70g por dia (25,55 kg por ano) e a média de consumo do brasileiro em 2024 foi de 104 kg por pessoa, 4x além do ideal. Além do impacto ambiental que a produção de carne causa no meio ambiente, a ingestão excessiva desse alimento também pode fazer mal para a saúde, levando a doenças cardíacas, vasculares, câncer, diabetes e obesidade.
  • Reduzir a quantidade de viagens de avião: pode não ser uma realidade para a maioria das pessoas, mas para aqueles que utilizam com frequência o transporte aéreo tendo a disponibilidade de usar outro tipo mais econômico e sustentável, essa troca pode impactar grandemente na saúde do planeta;
  • Participar de manifestações e grupos ativistas ambientais: dar voz, divulgar e participar de movimentos traz essa causa ao público geral com mais frequência, além de mostrar aos tomadores de decisões que o povo está atento e lutando pelo que importa.

Os maiores responsáveis pela poluição do planeta e emissão de carbono na atmosfera são justamente os que são menos impactados pelas mudanças climáticas. “Isso quer dizer que, se eu falar para você andar de bicicleta, usar o transporte público, evitar uma viagem desnecessária, você vai estar ajudando o planeta? Vai, ótimo! sempre vale. Mas na hora que um sujeito muito rico sai de iate, escoltado por outro iate, de onde parte o helicóptero dele para ir para a ilha particular, é um pouquinho diferente a contribuição”, Atila acrescentou.

Enquanto grupos de alta renda chegam a contribuir 10x mais para as mudanças climáticas do que a população de renda média e baixa, 1% da população mundial chega a impactar até 20x mais e 0,1%, 76x. A desigualdade está até nos danos que as mudanças climáticas causam.

O caos que é causado no clima e infraestruturas acaba afetando muito mais as populações em situações precárias: aqueles que não podem pagar por ar-condicionado para suportar o calor, que vivem em fundos de vale ou encostas de morros e acabam perdendo suas casas em enchentes e desmoronamentos, etc.

O caminho para a solução das mudanças climáticas está na mitigação dos efeitos causados pelos excessos da ação humana no planeta, começando com a descarbonização dos hábitos humanos, reduzindo até o ponto de eliminar o uso de combustível fóssil (para os automóveis e também geração de energia), assim como também responsabilizar os verdadeiros agentes causadores da maior parte dos impactos ao planeta: governos, empresas e os grupos de alta renda no mundo.

“Mas o que mais tem que fazer no Brasil? Mudar o uso da terra, acabar o desmatamento e o tipo de agricultura que a gente faz aqui. A gente pode descarbonizar, mas a gente também pode reverter. Podemos deixar de usar combustíveis fósseis e parar de soltar carbono, deixar de queimar a floresta e também podemos usar essa outra tecnologia fantástica de absorção de carbono que se chama árvore, que é linda quando cresce, e pode absorver esse gás carbônico na atmosfera”, continua Atila Iamarino. Os impactos das mudanças climáticas não serão sentidos pelas gerações futuras, eles já estão presentes e estamos sentindo muito nas nossas vidas hoje.


Maria Julia Pimenta é geógrafa e estudante de Jornalismo na UEL, participa do Grupo Gabo de Pesquisa, com o projeto de IC: “Geografia e humanização: narrativas jornalísticas literárias sobre espaço e território” e da Revista Jornalismo & Ficção na América Latina.

Leia também

Araceli: o caso que virou símbolo da luta contra a exploração e abuso sexual infantil no brasil

O assassinato de Araceli Cabrera Crespo, há 50 anos, foi marcado por uma onda de injustiças e indignações que ecoam no país até hoje. A campanha Maio Laranja combate abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes no Brasil. Proteger a infância e a adolescência ainda é um desafio urgente. Por Bela Garcia No dia […]


Ciclo de Filosofia e Cinema da UEL promove debate sobre a série “Adolescência”

O evento é gratuito e transmitido pelo Youtube, via canal do projeto Por Laís Amábile O projeto de extensão “Ciclo de Filosofia e Cinema”, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), apresenta a próxima exibição nos dias 22 e 23 de maio. A série “Adolescência”, da Netflix, será o tema desta edição.  Após a exibição, haverá […]


“E se fosse seu filho?”: audiência pública em Londrina expõe denúncias de abusos e cobra providências contra a violência policial

Famílias denunciam abusos policiais e exigem justiça em audiência pública na OAB – Ordem dos Advogados do Brasil de Londrina, marcada por depoimentos comoventes de mães que perderam filhos em ações violentas das forças de segurança. Entre relatos de execuções, silenciamento e impunidade, a audiência revelou o drama cotidiano de comunidades marcadas pelo luto e […]


O sucesso absoluto de Lady Gaga

A artista americana reuniu 2,1 milhões de pessoas em Copacabana e superou todas as expectativas Por Luiza Zottis No último sábado, dia 3, a cantora Lady Gaga se apresentou para um público impressionante de mais de dois milhões de pessoas. Foi o maior show da carreira da artista e ultrapassou o de Madonna, também organizado […]