Você viu a Fernanda Torres? TOTALMENTE adepta ao method dressing

Revista Jornalismo & Ficção


atualizado 6 dias atrás


A estratégia adotada por Fernanda e seu stylist, Antonio Frajado, certamente colaborou para que o filme Ainda Estou Aqui conquistasse o prêmio de Melhor Filme Internacional e levasse quase 6 milhões de espectadores para as salas de cinema no Brasil.  Antes de chegar ao Oscar, ao lado de Walter Salles, a atriz encarnou Eunice Paiva viajando durante seis meses pela Europa e Estados Unidos para apresentar ao mundo um pedaço cruel da história brasileira.  

Por Ciça Guirado e Rebeca Godoi

Fotos: Fernanda Torres (Reprodução/ Instagram)

Revisão e edição por Manuela Domingues

Filha dos atores Fernando Torres e Fernanda Montenegro, casada com o cineasta Andrucha Waddington desde 1997, mãe de Joaquim e Antônio, ela entrou para o ofício no Tablado, no Rio de Janeiro, aos 13 anos de idade. Escritora, roteirista e cronista, a atriz Fernanda Torres, com certeza, deixou-se banhar pelas lições do dramaturgo russo Constantin Stanislavski.

Aos 59 anos, depois de esnobar papéis incríveis em muitos filmes, depois de debochar da realidade na TV brasileira, interpretando suas personagens cômicas – Vani e Fátima – Fernanda Torres foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz pela Academia de Ciências Cinematográficas de 2025 por sua atuação em Ainda Estou Aqui. Ela não ganhou esse prêmio, mas ganhou o Globo de Ouro de Melhor atriz dramática e foi a figura principal na promoção do filme que arrebanhou mais de 40 prêmios (veja ao final do artigo a lista dos mais importantes). Junto com o diretor Walter Salles,  desfilou na pele de Eunice Paiva, seguindo o method dressing, criado por Stanislaviski.

Ainda Estou aqui ganhou o prêmio de Melhor Filme Internacional. Mas a batalha não foi simples. Durante seis meses na trajetória de divulgação, Fernanda Torres encantou o mundo com sua inteligência, bom humor e vestuário. Conhecida pela versatilidade e profundidade em suas interpretações, ao longo da carreira no teatro e no cinema, se destacou em papéis memoráveis, transitando entre diferentes gêneros e personagens, sempre com uma abordagem única e marcante. Sua participação no filme Ainda Estou Aqui mostra o vestuário da época e a discrição da personagem. Assim, nas  entrevistas e aparições para os prêmios, inclusive o Globo de Ouro de Melhor Atriz, ela havia de honrar Eunice. Em todo o processo para promoção do filme, as composições sóbrias – da roupa, maquiagem e acessórios – usadas por Fernanda, reforçaram a essência de Eunice Paiva: mãe e esposa da classe média, na década de 70, que lutou para desvendar a morte do marido, preso e torturado por militares. A sobriedade da personagem havia de ser condizente com a história dramática do filme Ainda Estou Aqui, que desperta a memória das crueldades acontecidas no Brasil durante os anos de chumbo.

Apesar do bom humor e da facilidade de comunicação em várias línguas, cada aparição pública de Fernanda Torres pode ser considerada um exemplo do conceito de method dressing, que foi criado na década de 1930 por Stanislavski. Esse método baseia-se na ideia de transportar a essência de um filme ou de uma personagem para além das telas, influenciando diretamente os trajes usados pelo ator ou atriz em eventos e aparições públicas. Mais do que uma simples escolha de estilo, essa tendência tornou-se uma poderosa estratégia de marketing, ajudando a promover produções cinematográficas e reforçando a conexão entre o intérprete e sua obra.

Ao lado de seu stylist Antônio Frajado, Fernanda Torres utilizou o vestuário para contar visualmente a história de Ainda Estou Aqui, refletindo a essência do filme, nos festivais, tapetes vermelhos e aparições midiáticas. “A roupa não pode de nenhuma forma ter excesso. Os excessos estão proibidos, eles não são necessários, não cabem. Porque é um filme que trata de uma tragédia ocorrida no país, uma tragédia que quase que caiu num esquecimento”, afirmou Frajado.

https://g1.globo.com/google/amp/pop-arte/moda-e-beleza/noticia/2025/01/11/elegancia-e-discricao-como-e-a-escolha-dos-looks-de-fernanda-torres-para-os-eventos-de-ainda-estou-aqui.ghtml

Mas o que torna o method dressing tão especial em Fernanda Torres? Afinal, muitas atrizes já adotaram esse conceito, algumas chegaram a replicar praticamente o figurino de seus personagens nos eventos promocionais. No entanto, o caso de Fernanda se destaca por não ser caricato. A atriz encontrou um equilíbrio entre representar sua personagem e manter uma identidade própria, evitando o exagero e a teatralidade excessiva.  Ela explicou sua intenção: “Você não pode ir vestida com uma coisa que não é. E a gente não pode trair a Eunice. A maneira como me apresento num tapete vermelho tem a ver com o Walter, com a Eunice Paiva, com o filme. Você não pode ir vestida de Cinderela indo mostrar esse filme, entendeu?”

https://g1.globo.com/google/amp/fantastico/video/stylist-de-fernanda-torres-conta-tudo-sobre-o-look-chanel-do-oscar-13386099.ghtml

Essa declaração sobre a escolha do vestuário foi muito além do marketing. Foi um gesto de respeito à obra, ao diretor Walter Salles, ao livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, e à história de Eunice Paiva, figura central da trama. Em meio ao circo que Hollywood se tornou, Fernanda se destacou ao optar pela fidelidade à arte e à cultura e à história do país que representa. Ela enalteceu o cinema nacional e ajudou na conquista do primeiro Oscar do Brasil. Mostrou o que há de mais sagrado no teatro: a essência da personagem, como recomendou Stanislavski. O drama de Eunice Paiva não poderia ter sido melhor interpretado.

Ela enalteceu o cinema nacional e ajudou na conquista do primeiro Oscar do Brasil. Mostrou o que há de mais sagrado no teatro: a essência da personagem, como recomendou Stanislavski. O drama de Eunice Paiva não poderia ter sido melhor representado.

Para fazer justiça à memória de Eunice Paiva, a atriz usou sempre cores sóbrias, sofisticação e minimalismo, refletindo a seriedade e a profundidade da personagem. Combinando peças de marcas nacionais e internacionais, seus looks foram um prolongamento da atmosfera do filme, agregando ainda mais significado à sua interpretação. Veja destaques abaixo.

O look usado para o Globo de Ouro foi discreto, mas cheio de elegância. O vestido do designer belga Olivier Theyskens apostava em recortes nas costas e uma fenda lateral, contrapostos por mangas compridas e gola alta, criando um visual equilibrado e refinado.

Na exibição especial do filme seguida de um Q&A em Londres, a atriz optou por um visual totalmente preto da estilista britânica Phoebe Philo. A combinação da blusa de gola alta com a calça cargo de seda mesclou sofisticação e atitude, criando uma produção moderna e cheia de estilo.

No Governors Awards, o deslumbre foi marcado por um vestido Dior da coleção outono-inverno 2024 da grife francesa.  A peça chamava atenção pela transparência sutil e pela gola de contas, que adicionava um charme especial à produção. Impecável!

Para o Festival de Cinema de Londres, Fernanda optou por um terninho da marca italiana Bottega Veneta. A combinação do blazer longo com a calça reta ganhou mais definição com o uso de um cinto preto na cintura.

O filme Ainda estou aqui serve de resistência, de memória, mas também trouxe momentos felizes que entraram para a história da cultura brasileira. Eunice pediu pra sorrir. Vamos sorrir! O Oscar de Melhor Filme Internacional foi uma grande comemoração para o povo brasileiro. Vestida de Chanel, confeccionado em mais de 450 horas, com 2 mil peças bordadas, ela sorriu e o Brasil sorriu em pleno Carnaval.


Os prêmios mais importantes conquistados por Ainda Estou Aqui

Associação Brasileira de Críticos de Cinema(Abraccine) – Melhor Longa-metragem Brasileiro

Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine) – Melhor Longa- Quem ainda não foi ao cinema assistir o premiadíssimo filme de Walter Salles, pode ver agora na Globo Play. Ainda Estou Aqui está disponível, desde o dia 6 de abril, nas plataformas de streaming. metragem Brasileiro

Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) – Melhor Filme e Melhor Atriz (Fernanda Torres)

Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ) – Melhor Filme de 2024

Prêmio F5 – Melhor Filme, Atuação Infanto Juvenil (Cora Mora) e Atuação em Filme (Fernanda Torres)

Prêmio Arcanjo de Cultura – Cinema (“Ainda Estou Aqui”)

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – Melhor Filme Nacional de Ficção

Festival Internacional de Cinema de Veneza (Itália)- Melhor Roteiro, SIGNIS Award e Green Drop Award

Cinema for Peace Awards (Alemanha) – Filme Mais Valioso do Ano

Latino Entertainment Film Awards (EUA) – Melhor Filme em Língua Não Inglesa e Melhor Atriz (Fernanda Torres)

Dorian Awards (EUA) – Melhor Filme em Língua Não Inglesa do Ano

Gold Derby (Júri Popular) (EUA) – Melhor Filme, Melhor Atriz (Fernanda Torres) Melhor Roteiro Adaptado (Murilo Hauser e Heitor Lorega) e Melhor Filme Internacional

Festival Internacional de Cinema de Roterdã (Holanda) – Prêmio do Público

Festival Internacional de Cinema de Santa Bárbara (SBIFF) (EUA) – Virtuosos Award (Fernanda Torres)

Prêmios Goya (Espanha) – Melhor Filme Ibero-Americano

Satellite Awards 2025 (EUA) – Melhor Atriz em Filme de Drama (Fernanda Torres)

Prêmio da Associação de Críticos de Porto Rico (EUA) – Melhor Longa-Metragem Internacional

Festival de Cinema de Palm Springs (EUA) – Melhor Longa-Metragem Internacional (FIPRESCI)

Pingyao International Film Festival (China) – Crouching Tiger Hidden Dragon East – West Award

Philadelphia Film Festival (EUA) – Masters Of Cinema (Prêmio do Público – Menção Honrosa)

Globo de Ouro 2025 (EUA) – Melhor Atriz em Filme de Drama (Fernanda Torres)

Festival international du film d’histoire de Pessac (França) – Prix du Public e Prix Danielle Le Roy du Jury Étudiant

Miami Film Festival (EUA) – Prêmio do Público

Mill Valley Film Festival (EUA) – Favorito do Público

Critics’ Choice Association – Celebration of Latino Cinema & Television (EUA): Melhor Atriz Internacional (Fernanda Torres)

Oscar 2025 (EUA) – Melhor Filme Internacional


Ciça Guirado é jornalista, mestre em Comunicação e Semiótica (PUC-SP), doutora em História da Comunicação (Universidade Nova de Lisboa) e Pós-doc em Jornalismo (UFSC). Professora da UEL, coordena, desde 2012, o Grupo Gabo de Pesquisa e edita a Revista Jornalismo & Ficção na América Latina.

Rebeca Godoi é estudante do curso Design de Moda da UEL, empresária na área, participa do Grupo Gabo de Pesquisa e é responsável pela coluna de Moda da Revista Jornalismo & Ficção na América Latina.

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