Indicado a 3 categorias do Oscar, “Ainda Estou Aqui” lembra ditadura militar e dá reconhecimento ao Cinema Brasileiro

Revista Jornalismo & Ficção


atualizado 1 semana atrás


“Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora, é essa espécie de sentimento de ‘olha o que a gente tem de rico’”, fala de Fernanda Torres em entrevista ao Uol (https://youtu.be/kyLetd2WY2k?si=TLA5jbgeJSRMqPWl). Ela traduz o sentimento de ver um filme que representa o Brasil chegando tão longe. É especial. É único. É nosso!

Por Maria Eduarda Charamitaro

Ainda Estou Aqui está concorrendo ao Oscar de Melhor filme, Melhor atriz e Melhor filme internacional na grande noite de gala prevista para o dia 2 de março. Adaptação do romance autobiográfico de Marcelo Rubens Paiva, retrata o assassinato do ex-deputado Rubens Paiva durante a ditadura militar no Brasil. A protagonista da história é sua mãe, Eunice Paiva, uma mulher que enfrentou a dor da ausência, de seu marido, em um regime que silenciava e apagava histórias por todos os cantos do país.

 É por meio de Eunice que Walter Salles reforça a ideia central do filme: a memória não é apenas uma maneira de resistir ao esquecimento, mas um ato de justiça. Fernanda Torres, em uma de suas performances mais marcantes, dá vida a Eunice. Sua interpretação foi ovacionada não apenas no Brasil, mas também ao redor de todo o mundo, sendo reconhecida com o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama, vitória que foi celebrada como um marco para o cinema nacional. Ela é a primeira atriz brasileira a vencer o Globo de Ouro, sendo a última presença do país na categoria em 1999, quando Fernanda Montenegro, mãe de Torres, concorreu por sua performance no longa “Central do Brasil”, também dirigido por Walter Salles.

Nos últimos meses, Fernanda Torres tem trabalhado muito na divulgação do filme. Semana passada, foi entrevistada em um dos principais programas da televisão estadunidense, o ”Jimmy Kimmel Live”. Com muito bom humor cativou, mais uma vez, o público. O papo começou com Torres relembrando um perrengue no aeroporto em virtude dos incêndios em Los Angeles, que chegaram a adiar sua participação na atração. Por conta da urgência de uma evacuação, ela precisou carregar a estatueta do Globo de Ouro consigo na bolsa.  

“Eu estava indo pra Nova York e o cara do aeroporto me disse ‘O que você tem aqui?’ Respondi ‘É um Globo de Ouro’. Ele disse ‘Posso ver que é um. Mas pelo quê? Como você conseguiu isso?’ Respondi: ‘Eu venci a categoria Melhor Atriz em Filme de Drama’. Ele me deu parabéns e disse: ‘Trabalhei na indústria, mas tive que sair pela minha sanidade” (entrevista completa em: https://www.youtube.com/watch?v=MTd_GMap3hA). Depois de fazer história no Globo de Ouro, a próxima parada de Fernanda Torres é na maior premiação do cinema, o Oscar.

As indicações saíram na última quinta-feira (23). O longa Ainda estou aqui tem sido reconhecido e aclamado em festivais e premiações de cinema ao redor do mundo. A três indicações ao Oscar: Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Atriz e a principal categoria, Melhor Filme do ano (é a primeira vez que uma produção brasileira é indicada para disputar o maior prêmio do cinema mundial). Além de vencer troféus renomados, como o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Veneza e o mais recente prêmio de Melhor Filme Internacional no prestigiado Festival de Cinema de Palm Springs, também marca presença nos indicados de Melhor Filme de língua não inglesa em premiações como Globo de Ouro, e o chamado Oscar Britânico, Bafta.

Essas conquistas consolidam o filme como uma obra de destaque, reafirmando o talento do cinema brasileiro em narrativas que emocionam e impactam ao redor de todo o mundo. No Brasil, o longa alcançou a marca impressionante de 4 milhões de espectadores nos cinemas. A vitória de Fernanda Torres no Globo de Ouro 2025 aumentou significativamente a procura pelo filme nas salas de cinema. Desde o anúncio da premiação, Ainda estou aqui triplicou seus números tanto em público quanto em arrecadação. Com as indicações ao Oscar, as salas de cinema no Brasil anunciam que vão ampliar a exibição.

Além disso, o desempenho nas bilheterias internacionais tem sido igualmente notável. De acordo com o site Box Office Mojo, o filme arrecadou US$256 mil (cerca de R$1,548 milhão na cotação atual) em apenas quatro dias em cartaz em 87 salas portuguesas. Nos Estados Unidos, liderou as bilheterias no quesito média de faturamento por sala, vendendo significativamente mais ingressos por exibição do que os outros longas em cartaz.

Ainda Estou Aqui é mais que um relato histórico ou um drama familiar. É um lembrete necessário, um chamado para que as feridas abertas pelo passado não sejam esquecidas, mas enfrentadas. Com delicadeza e profundidade, Walter Salles nos deixa com a certeza de que, enquanto houver quem lembre, os rostos apagados pelo silêncio jamais serão invisíveis.

Ficha Técnica:

Roteiro: Marcelo Rubens Paiva e Murilo Hauser   

Diretor: Walter Salles

Elenco: Fernanda Torres, Selton Mello, Fernanda Montenegro, Antonio Saboia, Barbara Luz, Caio Horowicz, Camila Márdila, Carla Ribas, Daniel Dantas, Dan Stulbach, Helena Albergaria, Humberto Carrão, Luiz Kosovski, Maeve Jinkings, Maria Manoella, Marjorie Estiano, Olivia Torres, Otavio Linhares, Valentina Herszage.


Maria Eduarda Charamitaro, estudante de jornalismo da UEL, participa do projeto de extensão Safety e do Grupo GABO de Pesquisa.

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