Convidada inesperada
Revista Jornalismo & Ficção
atualizado 1 ano atrás

Dia 8 de outubro de 2023, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, declarou guerra contra o grupo Hamas. Mas, a pureza de uma criança pode transformar a realidade em um sonho colorido.
Izabella Abade
O dia estava ensolarado. Havia turistas conhecendo a cidade, famílias sorrindo e crianças brincando ao ar livre, tudo acontecendo como de costume. Mas, para Maya, algo não estava certo, havia alguma coisa que não pertencia àquele lugar. “Acho que estou pensando coisas”. Afinal, hoje era seu aniversário. Claro que tudo estaria certo, pensou animada.
Maya Saad morava com sua família em Jerusalém. Ela amava essa cidade e todo o passado que carregava, “Como podem esses muros e até o chão terem tantas histórias para contar?”, dizia sempre, encantada.
Na família Saad, quando uma menina completa 8 anos, eles fazem a Festa das Cores e chamam todos que conhecem a criança. Dizem que, nessa tradição, os antepassados sentem-se vivos pela atração das cores e, como sinal de agradecimento, abençoam a aniversariante com anos de saúde e alegria.
Maya estava muito eufórica com os preparativos do seu aniversário, ajudava sua mama em tudo e ficava entusiasmada sempre que via o pátio de festas do bairro ganhando vida. Após terminar seus afazeres, Maya foi se arrumar. Usou um vestido roxo com detalhes azuis e amarelos dado por seu baba. Enfeitou o cabelo e fez pinturas faciais coloridas. Enquanto isso, os convidados foram chegando e a festa começou.
A menina foi recebida por muitos aplausos e pessoas gritando seu nome. Deram-lhe um buquê de flores azuis — significa segurança, proteção, espiritualidade e imortalidade — e começaram a dançar em volta dela. Estava tudo lindo. Maya sentiu-se acolhida e amada. Porém, uma notícia repentina destruiu a celebração: “Hoje, 8 de outubro de 2023, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, emitiu uma declaração oficial de guerra contra o grupo Hamas”. Guerra.
De repente um vento forte arruinou toda a decoração da festa, apagou as velas aromáticas, derrubou os lenços e levou embora toda felicidade e esperança. As pessoas ficaram desesperadas, com medo. “Guerra? Como assim?” Era o que mais se ouvia naquele momento. Maya vê seus convidados indo embora angustiados. Uma tontura invade seu corpo, suas mãos congelam e sua visão vai escurecendo.
— Maya, acorda! Você vai se atrasar para a aula, menina, levanta.
Era dia. Sua mama estava em pé chamando. Maya olha ao seu redor e percebe que a sensação de não pertencimento havia passado. O conforto e a segurança estavam de volta. Foi só um sonho. Nada tinha acontecido, a felicidade e a esperança continuavam. A realidade. A paz. E tudo estava em seu devido lugar.
Izabella Abade é estudante de Jornalismo, participa do Grupo Gabo de Pesquisa e do Projeto de Extensão Entretons.