ALDEIA NATAL

CLCH


atualizado 9 meses atrás


Brasil arcaico, Ucrânia e relações familiares se encontram em novo documentário

Uma jornada pessoal iniciada no interior do Paraná e concluída na Ucrânia deu origem ao mais novo filme do diretor e produtor Guto Pasko, da GP7 Cinema. Com o documentário “Aldeia Natal”, ele parte de uma situação autobiográfica – a relação distante com os pais e a condição de descendente de imigrantes ucranianos – para montar um panorama sobre questões brasileiras e universais. Relacionamentos familiares, religiosidade, imigração, tradição cultural e a busca pelas raízes dos antepassados são alguns dos temas abordados pelo filme, que terá première perto de onde toda a história de Pasko começou.

Duas sessões de pré-estreia acontecem no início de agosto: dia 3 em Irati, no Cinema.com, e dia 6 em Prudentópolis, no Cinemec – ambos cinemas de rua e localizados em cidades com forte herança ucraniana.

O documentário foi filmado entre 2018 e 2019, com locações em Queimadas, área rural de Prudentópolis, e na Ucrânia. No país europeu, a equipe esteve na região oeste, distante dos territórios invadidos pelos russos em fevereiro do ano passado, mas algumas das províncias visitadas também foram alvo de bombardeios recentes, como Lviv.

AUTORAL E FAMILIAR

Com 1h49 de duração, a obra retrata o retorno do cineasta Guto Pasko a sua “aldeia natal”, a bucólica Queimadas, e a busca por se reconectar com os pais, os irmãos e o legado histórico e cultural dos antepassados – imigrantes que fizeram parte das levas de ucranianos que vieram para o Brasil no final do século XIX. Este processo lento e gradual de reaproximação termina com uma viagem ao país do leste europeu, onde ele, o pai e a mãe percorrem aldeias isoladas procurando rastros dos antepassados que emigraram e parentes ainda vivos. Mais do que nomes em antigas lápides ou primos distantes, pelo caminho vão encontrando a união familiar desfeita por conta de discordâncias sobre religião, tradição e costumes.

Uma destas tradições, comum no interior do país até tempos recentes, é a de pagar promessas fazendo com que um dos filhos dedicasse a vida à igreja. No caso da família de Guto Pasko, profundamente religiosa, uma graça foi concedida e o escolhido para retribuir o favor divino foi ele, o mais velho de 11 irmãos. O jovem não aceitou a imposição e aos 11 anos saiu de casa, se mudando para Curitiba. Uma irmã mais nova, de apenas nove anos, foi então enviada para um convento, substituindo-o na promessa. Passados seis anos, diante da vontade da irmã de deixar a clausura religiosa, Pasko protagonizou um rapto consensual dela, iniciando assim uma grave crise familiar que duraria décadas.

IDENTIDADE CULTURAL

“Depois de 30 anos de distanciamento de meus pais e irmãos, e já tendo feito outros cinco filmes com temática ligada à cultura ucraniana, vi que deveria encerrar este ciclo olhando para minha própria família”, conta Pasko, que já dirigiu sete longas-metragens e a minissérie televisiva Contracapa, além de dezenas de outros trabalhos. “É também uma busca pela minha própria identidade, ao mesmo tempo que revela um Brasil diferente, construído por aqueles imigrantes que vieram de lugares tão longínquos”.

Prudentópolis tem a maior colônia de descendentes de ucranianos no Brasil – cerca de 80% de sua população de 52 mil habitantes têm antepassados que imigraram daquele país. Por conta do isolamento e da forte religiosidade, a região manteve intactos muitos costumes, como a língua, música, dança e o ritual bizantino utilizado nas missas.

Serviço:
Documentário “Aldeia Natal”
Sessão Gratuita em Londrina
Promoção: Núcleo de Documentação e Pesquisa Histórica e Museu Histórico de Londrina
Local: Museu Histórico de Londrina
Data: 17 de outubro, 19:30

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