Jornada II – Presságio distópico: Os seriados televisivos enquanto oráculos eletrônicos.
Por Susan Caroline Camargo
atualizado 3 anos atrás
Introdução
Quantas vezes já nos deparamos com alguma reportagem com dizeres tais como “Filme e episódio de seriado de TV previram o acontecimento X ou Y”? Principalmente nos últimos dois anos, após o início da pandemia, manchetes como essa passaram a ser cada vez mais frequentes, e ganharam mais repercussão, com divulgação nas mídias e redes sociais, sites e blogs, a exemplo do BuzzFeed, portal de notícias estadunidense que hoje existe em vários países e que nasceu com a proposta de cobrir e informar sobre uma variedade de tópicos, sem deixar de lado um tom descontraído, para um público bastante diverso.
Partindo desse ar profético que uma parcela do público passa a atribuir aos acontecimentos ficcionais de determinada mídia, quando identificam nela certas coincidências com a realidade do mundo, nasceu a pesquisa de Bezerra, Nóbrega e Duarte (2021), cuja leitura recomendo aqui! O objetivo do estudo? Estabelecer e compreender justamente essas relações que o público, a audiência de algumas séries de TV estabelecem, entre acontecimentos factuais e trechos de ficções de caráter distópico, a ponto de interpretá-las enquanto premonições.
Para a análise, os autores escolheram duas produções de TV: a animação Os Simpsons (1989-atual) e a série de TV O Conto da Aia (2017-atual), ambas famosas entre o público, em especial o da internet, por terem ‘previsto’ certos acontecimentos de grande proporção global, como a pandemia de coronavírus e a invasão do Capitólio, nos EUA.
Para a construção do aparato teórico e metodológico, os pesquisadores lançam mão de diversos autores, passando por Agamben, Foucault e Deleuze, mas com contribuições principalmente de Max Weber, Byung-Chul Han, François Jost, Marcel Silva e Leomir Hilário.
Já antecipando possíveis acusações de estarem defendendo algum tipo de misticismo, um oculto que busque endossar essas ‘premonições’ feitas pelas mídias, os autores defendem que, com o estudo, têm apenas a intenção de “apresentar um panorama do sentido oracular que a audiência tem atribuído a produtos midiáticos específicos, registrando uma particularidade comunicacional que se manifesta neste início de século XXI” (BEZERRA; NÓBREGA; DUARTE, 2021, p. 145), algo que eu, particularmente, também julgo necessitar de olhos cada vez mais atentos, inclusive do panteão da academia.
Para evitar os “spoilers”, já utilizando de um termo apropriado à temática, encerro essa recomendação sem comentar as conclusões dos pesquisadores, mas esperando que esse meu breve comentário seja capaz de atiçar a curiosidade dos leitores desta seção, pois certamente é uma pesquisa com um tema diferente e bastante atual nesses tempos (pós?) pandêmicos, nos quais a TV atuou como entretenimento em diversas ocasiões.
Referências
BEZERRA, Ed Porto; NÓBREGA, Hélder Paulo Cordeiro da; DUARTE, Vlamir Marques. Presságio distópico: os seriados televisivos enquanto oráculo eletrônico. Revista de Estudos de Cultura, Sergipe, v. 2, n. 17, p. 149-162, jul/dez. 2021.
Leitura Complementar
MANCILLA-VALDEZ, Esmeralda. El Género del Racismo Tardomoderno en 100 Series Animadas. ANDULI, Revista Andaluza de Ciencias Sociales, Sevilla, n. 21, p. 75-103, 2022.