Misoginia contra pré-candidata expõe o preconceito na política

DM Anápolis


atualizado 6 meses atrás


Um comentário misógino contra a pré-candidata a prefeita Eerizania Freitas (União Brasil), que veio a público na última semana, acendeu o alerta para a violência que mulheres ainda sofrem em ambientes políticos, com ataques preconceituosos quando decidem disputar cargos de maior destaque.

As manifestações de apoio a Eerizania vieram de diferentes setores e grupos políticos. Na sexta-feira, 17, o Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM) publicou uma nota de repúdio e em defesa da mulher na política.

“É lamentável que ainda existam manifestações preconceituosas sobre a participação das mulheres na política”, iniciou o texto do CMDM. Segundo a entidade, o texto divulgado desrespeita Eerizania ao focar em sua aparência física, desqualificando suas capacidades e perpetuando estereótipos. 

“Mulheres tem lutado incansavelmente para ocupar posições de liderança, e sua contribuição deve ser valorizada sem recorrer a ataques superficiais. Avaliações de candidatas devem ser baseadas em propostas e realizações, não em aparência”, disse o CMDM.

A entidade reafirmou seu compromisso com a equidade e repudiou qualquer tentativa de desqualificação baseada em critérios superficiais. “A política deve ser inclusiva e respeitosa, valorizando as competências de todos, independentemente de gênero”, finalizou o texto.

Na tribuna da Câmara de Anápolis, vereadoras e vereadores de Anápolis saíram em defesa de Eerizania Freitas. A vereadora Cleide Hilário (Republicanos), que é procuradora especial da Mulher no Legislativo, levantou o tema na tribuna e foi acompanhada pelas três colegas presentes, Andreia Rezende (Avante), Trícia Barreto (MDB) e Seliane da SOS (MDB). “É ano eleitoral e o que mais a gente tem visto são mulheres que são vítimas de violência política e violência de gênero”, afirmou Cleide. 

Cleide leu trecho de comentário que foi direcionado a Eerizania: “Chama a atenção, no entanto, o fato de Eerizania Freitas ostentar o padrão de mulher desejada, curvas acentuadas, numa feição trabalhada em alguns procedimentos plásticos, que fazem dela um perfil bastante interessante. Aparentemente é apenas o critério que fez com que o atual prefeito e governador lançassem a loira na corrida pela prefeitura”.

Cleide condenou o ataque. “Quando vejo esse tipo de comentário, vejo como repugnante. Será que a única capacidade que ela tem é seu corpo?”, argumentou a vereadora, lembrando que na Casa tem cinco mulheres, todas formadas, pós-graduadas e com capacidade técnica de exercer um cargo público.

Cleide lembrou que Anápolis tem hoje duas pré-candidatas a prefeita – além de Eerizania, já apresentou o nome a advogada Mariane Stival (PDT), “também uma profissional com capacidade reconhecida, pós-doutora e professora universitária, mas que mesmo assim ainda é alvo de comentários vexatórios na internet”. 

MACHISMO

Andreia Rezende afirmou que vê o ocorrido como algo muito sério e que quando acontece uma violência de gênero na política, trata-se de um crime e uma situação de machismo estrutural de toda a sociedade. “Isso é muito sério. Hoje é a pré-candidata Eerizania Freitas. Amanhã pode ser uma de nós. E quero apoiá-la nessa denúncia e nessa defesa à pré-candidata e exigir respeito?”, disse Andreia Rezende.

A vereadora Trícia Barreto manifestou “todo o apoio à indignação” de Cleide Hilário e lembrou que sofreu ataques quando decidiu entrar na política, o que não se configurou uma novidade para ela, já que tinha vindo de um ambiente já bastante masculino. “Eu ouço isso há muito tempo, pois estive por 25 anos dentro de um ambiente masculino, que foi a Força Aérea Brasileira”, comentou Trícia.

A vereadora Seliane afirmou que fica muito indignada com casos como esse, pois todas elas estão na política porque tem um trabalho prestado na sociedade. “Ela [Eerizania] só é candidata porque tem serviço prestado. Não podemos deixar que se faça isso não só com a Eerizania, mas com todas nós”, ressaltou. 

O presidente da Câmara, Dominguinhos do Cedro (PDT), também se posicionou contrário a qualquer ataque misógino e ressaltou que Eerizania tem capacidade técnica e conhece a cidade, qualidades que lhe fazem aptas a pleitear o cargo de prefeita. Ele lembrou da importância da mulher na política e citou que o seu partido, o PDT, também tem uma pré-candidata, a advogada Mariane Stival. 

O primeiro secretário da Mesa Diretora, vereador Cabo Fred Caixeta (PRTB), usou a tribuna para condenar a atitude de pessoas que têm feito comentários misóginos e cometido violência de gênero em postagens de Eerizania Freitas. Cabo Fred Caixeta fez questão de dizer que a defesa que faz é apartidária e atende ao compromisso de lutar pelo respeito às mulheres. “Todas elas devem ser respeitadas.

“Estamos preparadas”, diz pré-candidata

A pré-candidata Eerizania Freitas (União Brasil) disse, na quinta-feira, 16, que a violência de gênero cometida contra uma mulher se estende às outras. “Uma mulher não pode ter a sua competência, sua capacidade de gestão e atuação profissional avaliada em função da cor do seu cabelo, dos seus traços faciais, em função do seu corpo. Isso é violência de gênero, isso é crime”, afirmou ela, em entrevista à Rádio Manchester.

Segundo Eerizania, tudo que ela faz publicamente faz questão de deixar sua digital, mas aquele que fez comentários misóginos a respeito da sua pré-candidatura se escondeu “na escuridão da madrugada”, agindo “com covardia”. 

“Mas estamos preparadas. Todas as mulheres de mãos dadas, todos os homens de bem, homens que reconhecem a mulher no cenário político, estamos preparados para combater esse tipo de crime e fazer com que Anápolis seja a cidade mais desenvolvida de Goiás”, completou. 

Eerizania disse que recebeu o texto com indignação, pois as palavras escritas possuem um cunho de extrema violência. A pré-candidata explicou por que considera os comentários como uma violência de gênero. “Porque fala que uma mulher não tem competência para ser uma líder de uma cidade se o cabelo dela não for de determinada cor, se o corpo dela não for de determinado padrão”. 

Eerizania afirmou que recebeu o texto de forma consternada, mas não apenas por ela, mas por todas as mulheres que estão na sociedade trabalhando e construindo uma história. “E, também, por homens de bem que prezam por suas famílias”, completou.

Segundo ela, já era possível avaliar que situações como essa iriam aflorar a partir do momento em que ela foi convidada pelo governador Ronaldo Caiado (União Brasil) a ser pré-candidata a prefeita de uma cidade do porte de Anápolis. “Sabia que isso causaria ciúmes. Mas Caiado entende e valoriza a mulher na política, pois a primeira-dama Gracinha Caiado fez com que o Goiás Social fosse o maior programa social do país”. 

Para saber mais clique aqui

Leia também

Lesfem realizará o II Simpósio sobre Feminicídios

A Universidade Estadual de Londrina (UEL) tem o prazer de anunciar o II Simpósio sobre Feminicídios: Reflexões sobre Incidências e (In)visibilidades, que ocorrerá de 23 a 25 de outubro de 2024, em Londrina/PR. Este evento será realizado pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM) que reúne especialistas de renomadas instituições como UEL, UFBA e UFU.  […]


Segundo Portal da Transparência do CNJ, a Justiça do DF recebe 574 pedidos de medidas protetivas por violência contra a mulher a cada ano

Violência contra mulher: 574 vítimas pedem medidas protetivas por ano

Por ano, no Distrito Federal, uma média de 574 vítimas de violência contra a mulher requerem medidas protetivas de urgência a cada ano. Concedidas pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), as medidas protetivas de urgência são baseadas na Lei Maria da Penha. Dados do Portal da Transparência do Conselho Nacional de Justiça […]


O aumento nos casos em diversos estados nos alerta para a urgência de ações eficazes na prevenção contra a mulher

Monitor de Feminicídos do Brasil Revela aumento alarmante e Estatísticas Preocupantes 

O Monitor de Feminicídios no Brasil divulgou os dados atualizados de 2024, revelando um aumento alarmante nos casos de feminicídios em todo o país. Segundo os números mais recentes, foram registrados 750 feminicídios consumados e 1693 casos de feminicídios consumados e tentados até o momento.  Destacando-se entre os estados mais afetados, São Paulo lidera com […]


É o que mostra o Atlas da Violência, com base em registros do SUS de 2022 — quando mais de 144 mil mulheres foram atacadas

Atlas da Violência mostra que a cada 46 minutos ocorreu um estupro no Brasil em 2022

Um estupro ocorreu a cada 46 minutos no país, em 2022. A constatação é do Atlas da Violência, publicado ontem pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Com base nos registros do Sistema Único de Saúde (SUS) daquele ano, mais de 144 mil mulheres foram vítimas de algum […]